quinta-feira, 6 de agosto de 2009

A Profissão mais antiga

Prostituta, rapariga, puta, gato velho, loba, meretriz, quenga, comélia, messalina, mulher de vida fácil, cortesã, rameira acompanhante, enfim, esses são alguns dos nomes dados à mulheres que praticam a profissão mais antiga do mundo (assim alguns dizem).

A mulher tem garantido nos últimos anos um excepcional crescimento dentro da sociedade e hoje já é reconhecida como um importante ator social. A “independência” conquistada e a ascenção ao mercado de trabalho transformaram a mulher, em uma guerreira que saiu do âmbito do lar e vai para a guerra contra o machismo das empresas, tentando salários equiparados e sua condição de importante colaboradora do desenvolvimento nacional.

No entanto, as prostitutas ainda são vítimas do preconceito, principalmente da ética religiosa e da, às vezes mal interpretada, noção kantiana do mundo, de que um ser humano não pode ser utilizado como meio para um fim e o principal argumento para que não se aceite a prática da prostituição é o fato de as pessoas enxergam isso como uma afronta a todos os preceitos morais e éticos a que estão acostumados a viver, como se aquilo que se entende por ética seja uma coisa universal.

No Egito as prostitutas eram consideradas grandes sacerdotisas, eram adoradas e consideradas encarnações das deusas na terra e para que o homem e mulheres sentissem o regozijo de se relacionar com um deus (na forma de favores sexuais) faziam oferendas para tais mulheres.

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Na Grécia, as prostitutas eram respeitadas e sua profissão era reconhecida, tanto que pagavam impostos, eram as hetairas (heteros, amantes, companheiras). Além disso, deviam usar roupas que as identificassem como tal (ora, isso não lembra alguma coisa? Advogado de terno, médico de jaleco etc etc). Um adendo: aos gregos era possível a relação poligâmica com até três hetairas, uma para o prazer sexual que se misturava com o espiritual (era a porné, portanto atriz pornô é prostituta, sim), uma para o trabalho do lar e outra para a criação dos filhos.

Com o advento do Cristianismo (e você achou que era por causa de que?) e o rebaixamento da mulher à condição de coisa, as prostitutas, antes respeitadas e adoradas, agora são consideradas mulheres possuídas pelo demônio que atiçam os homens à infidelidade, luxúria e outros pecados que levariam as pessoas ao inferno. A Idade Média levou à fogueira e a Inquisição torturou, mutilou e empalou muitas mulheres acusadas desse tipo de atividade.

Nos dias de hoje há quem defenda até a criminalização de quem vende o seu corpo para o prazer sexual de outra pessoa. No entanto, o próprio Código Penal lá de 1940, auge da moralidade brasileira, só tipifica os casos em que alguém se aproveita da prostituta, como nos casos de manter uma casa de prostituição ou ganhar porcentagem em cima do valor cobrado por elas, mas não criminaliza o fato de alguém vender seu próprio corpo a sustento próprio.

Não que se defenda todas as mulheres em dificuldades se tornarem prostitutas. Mas, aquelas que aderirem ao fato não sejam discriminadas como se bestas animalescas fossem.


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Pois bem, esse preconceito contra as prostitutas se deve ao fato de que as pessoas se veem constrangidas com a forma peculiar que é a vitrine do corpo humano e por isso não se pode culpar ninguém que vive em uma sociedade de preceitos cristãos como os nossos. Mas, daí a dizer que o preconceito deve ser necessário, mas não discriminador já é um absurdo paradoxal, nenhum preconceito deve ser necessário. Por ser preconceito já pressupõe discriminação.


Antes de discutirmos porque algumas mulheres tendem a vender seu corpo por dinheiro, ou outros favorecimentos, devemos primeiros analisar todo a estrutura que envolve a formação feminina. Em um país em que sucesso é música que diz “dinheiro na mão, calcinha no chão”, que há uma adoração exacerbada ao corpo em revistas e filmes pornôs, em que a mulher só é analisada do pescoço para baixo, cria uma série de mecanismos para que a feminilidade se banalize e há abertura para o tráfico de mulheres e crianças, para que o homem se satisfaça com o que não tem em casa: aquele produto maravilhoso que só teria mesmo se comprasse.

[...] assim a mulher se pôde igualar, na sedução, ao frigorífico ou ao aspirador. Vergílio Ferreira, “Invocação ao Meu Corpo”

Kibado